Pra onde eu vou

O palhaço triste amava a trapezista gorda que amava o equilibrista beberrão que amava o malabarista epiléptico. Quando estatelou-se no meio do picadeiro o equilibrista que vinha embriagado pelo palhaço cambaleando na corda-bamba, como havia predito Madame Talba, a cartomante futuróloga quiromante e craque da bola de cristal, o público aplaudiu. No exato momento puxava da cartola o coelho, pelas orelhas, Bogus Rudini, o magnífico mágico do circo. Famoso pela rotina do guarda-chuva invisível, diplomado por correspondência no curso de formação à distância do instituto de truques baratos, dominava os baralhos preparados, os fundos falsos, a fumaça e os espelhos. Trazia sempre no ombro o assistente, papagaio contorcionista que apresentava o número sem jamais revelar o segredo. Até porque, se o fizesse, o sindicato dos ilusionistas ilustres acabava com eles. Aí no enterro colorido a mulher-barbada portuguesa, que só tinha um mísero bigodinho de fiapos, choraria. Todos compareceriam. O atirador de facas míope, o engolidor de espadas e fogo alérgico a laticínios e frutos do mar. Os outros quinze palhaços iriam dentro do fusca miniatura, esguichando uns nos outros o jato d’água das flores de lapela. O leão aparecia com o domador na barriga. O padre ventríloquo contava uma piada, alguém tirava flores da cartola do morto, e serravam o caixão ao meio.


Um comentário:

Anônimo disse...

"...venha também." hey, cervejinha?